Brad Haynes e Nicolás Misculin
27 ABR2016
17h09
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, repete com tanta frequência a meta de suas políticas econômicas que ela se tornou um mantra: "pobreza zero".
Foto: Reuters
Mas após cinco meses de seu mandato, as políticas de Macri só engrossaram as fileiras dos pobres, azedando a opinião pública e elevando o risco de reação contra uma reforma econômica que está conquistando investidores estrangeiros.
Ao desvalorizar acentuadamente o peso, relaxar o controle de preços e aumentar os impostos sobre serviços, Macri fez a inflação subir. Os preços aumentaram mais de 6 por cento em Buenos Aires neste mês, estimam economistas do setor privado, o que deixa os gastos básicos fora do alcance de um número maior de famílias.
"Dá para sentir o golpe", disse Raul Costilla, de 42 anos, que mora com três filhos em uma favela ao sul da capital e que luta para fechar as contas no fim do mês devido ao aumento no valor da tarifa de ônibus e do gás. "É como uma esquizofrenia social... as pessoas votaram nesse governo esperando uma recuperação, mas estamos sentindo o oposto".
O governo de centro-direita de Macri promete reduzir a inflação mensal para perto de 1 por cento no segundo semestre deste ano, mas a estratégia de elevar as taxas de juros e reduzir os salários do funcionalismo público também aumentou o desemprego e aprofundou a desaceleração em curso.
Como resultado, quase 33 por cento dos argentinos vivem hoje em famílias incapazes de adquirir uma cesta básica de alimentos e outros produtos, ante 29 por cento no final de 2015, de acordo com pesquisadores da Universidade Católica da Argentina (UCA).
As estatísticas governamentais questionáveis tornaram ainda mais difícil calcular a renda média e os preços ao consumidor nos últimos anos, mas Macri já havia citado estudos da UCA para denunciar a taxa de empobrecimento crescente do país sob o comando de sua antecessora, a esquerdista Cristina Kirchner.
Embora muitos argentinos concordem que Macri herdou uma economia estagnada e presa a uma inflação crônica e deficits fiscais vultosos, suas promessas de campanha de uma reação rápida criaram expectativas e deixaram um cronograma apertado para que seu remédio amargo comece a surtir efeito.
"A lua de mel está dando lugar a demandas por soluções concretas", disse o analista político Pablo Knopoff, acrescentando que os argentinos não tolerariam uma longa espera para uma recuperação. "O presidente estabeleceu o prazo: a segunda metade do ano."
As avaliações positivas de Macri caíram de 71 por cento em dezembro, quando tomou posse, para 53 por cento neste mês, e as impressões negativas saltaram de 26 para quase 43 por cento, segundo uma pesquisa da consultoria Ricardo Rouvier & Asociados.
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