Por Ricardo Brito,
•6 de novembro de 2017
Ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, escoltado por policiais em Curitiba 20/10/2016 REUTERS/Rodolfo BuhrerMais
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou nesta segunda-feira que o empresário da J&F Joesley Batista "construiu" a história de que houve uma tentativa de compra do seu silêncio para que ele não fizesse uma delação premiada com o objetivo de justificar a denúncia contra o presidente Michel Temer.
"Não existe essa história de dizer que estou em silêncio ou que eu vendi o meu silêncio para não delatar. Queriam atribuir isso, para atribuir crime presente para justificar uma denúncia que pegasse o mandato do Michel Temer, essa que é a verdade. Deram uma forjada e o seu Joesley foi cúmplice nessa forjada e ele está pagando o preço sobre isso agora", disse Cunha.
Preso pela operação Lava Jato, o ex-presidente da Câmara foi interrogado em uma ação que é réu na Justiça Federal de Brasília na qual se apura irregularidades na Caixa Econômica Federal. A íntegra do depoimento dele, em vídeo, estava sendo disponibilizado aos poucos pela assessoria de imprensa do órgão.
Segundo Cunha, ele não está em silêncio porque "nunca" houve uma proposta do Ministério Público Federal ou da Polícia Federal para que ele firmasse um acordo de colaboração premiada.
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot apresentou a primeira denúncia contra Temer por corrupção passiva sob a suspeita de que Temer concordou com o pagamento a Cunha e ao empresário Lúcio Funaro a fim de eles não o implicarem.
Em delação premiada, Funaro confirmou a acusação feita por Joesley. Cunha, entretanto, rechaça que essa negociação tenha sido feita.
FUNARO E TEMER
O ex-presidente da Câmara disse também que Funaro não tinha qualquer acesso a Temer e acusou-o de ter mentido ao na delação premiada dele para implicar o chefe do Executivo Federal.
Em depoimento na semana passada, Funaro afirmou que o grupo Bertin fez repasses ilícitos para a campanha de Cunha, de Temer, então candidato a vice-presidente em 2010, e do então líder do governo na Câmara, o ex-petista Cândido Vaccarezza (Avante-SP).
Todas essas contribuições, acusou o empresário, foram feitas a pedido de Cunha. Para Temer, o pagamento seria de cerca de 2 milhões de reais. Funaro firmou um acordo de delação premiada com o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.
Cunha negou que os repasses da Bertin foram ilegais. "Eu não me lembro de ter pedido para o Michel Temer, mas se tivesse pedido, qual o ilícito disso para a campanha de vice-presidente? Não tem nenhum ilícito. Eu não me recordo disso sinceramente, mas se pedi, se pedi, não vejo nenhum problema em relação a isso", rebateu.
Cunha negou que haveria qualquer contrapartida nessas contribuições feitas pelo grupo Bertin. Segundo ele, a contribuição foi para se aproximar e não se tratou de "propina".
Em nota divulgada na semana passada, a Secretaria de Comunicação da Presidência disse que Temer contesta "de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos, ainda mais partindo de um delator que já mentiu outras vezes à Justiça".
"Em 2010, o PMDB recebeu 1,5 milhão de reais em três parcelas de 500 mil reais como doação oficial à campanha, declarados na prestação de contas do Diretório Nacional do partido entregue ao TSE. Os valores não têm relação com financiamento do FI FGTS", afirmou a nota.
POSTO IPIRANGA
Cunha fez questão de rebater todas as acusações feitas por Funaro contra ele. Disse que empresário tenta transformá-lo em um "Posto Ipiranga", uma alusão a um comercial de televisão em que todas as necessidades das pessoas são resolvidas naquele estabelecimento.
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