O Santander Brasil teve lucro praticamente estável no primeiro trimestre, uma vez que o controle da inadimplência permitiu menores despesas com provisões para calotes, o que compensou a retração da carteira de crédito.
O maior banco estrangeiro no país anunciou nesta quarta-feira (27) que seu lucro recorrente - que exclui despesas com ágio na aquisição de outras sociedades controladas pelo banco - atingiu R$ 1,66 bilhão no período, alta de 1,7% em relação ao mesmo período de 2015 e de 3,3% na comparação semestral.
O crescimento de 3,3% do lucro líquido foi atribuído, em parte, ao esforço do banco em fidelizar clientes antes inativos, além de incorporar novos correntistas ao banco. A afirmação foi feita pelo presidente do Santander, Sérgio Rial, em videoconferência nesta quarta-feira para detalhar os resultados do primeiro trimestre.
Após despesas com ágio, o lucro societário somou R$ 1,213 bilhão, aumento de 77,4% na comparação anual.
O banco registrou queda de 3,7% na tarifa com transações e serviços na passagem de 2015 para o primeiro trimestre deste ano, mas alta de 9,3% em um ano. Para Rial, essa alta foi possível mesmo sem a elevação de tarifas, justamente porque os clientes estão utilizando mais serviços no banco.
CRÉDITO
Refletindo a recessão no país, o Santander Brasil viu sua carteira de crédito ampliada encolher 3,8% em relação ao primeiro trimestre de 2015, para R$ 312 bilhões. O valor também é 5,7% menor que o registrado no fim do ano passado. O financiamento ao consumo e às grandes empresas foram as carteiras com maior retração: 9,6% em ambos os casos.
Segundo Rial, a queda já era esperada pela falta de demanda. Ele disse, no entanto, que o banco vai liberar linha de R$ 1 bilhão para franquias, afirmando que há uma migração dos empregados para o empreendedorismo.
A qualidade da carteira ficou praticamente estável, uma vez que o índice de inadimplência acima de 90 dias foi a 3,3%, aumento de apenas 0,1 ponto percentual ante dezembro. Na comparação anual, houve alta de 0,3 ponto percentual.
Segundo o banco, a carteira do Santander tende a ter pequena piora nos próximos trimestres, refletindo a recessão no país, que deve pressionar sobretudo a carteira de pessoa física.
"Não seria real não enxergar deterioração da carteira nos próximos meses", disse o diretor de relações com investidores do banco, Angel Santodomingo, em teleconferência com analistas sobre os resultados do primeiro trimestre, divulgado mais cedo.
Segundo ele, essa tendência deve permanecer até que a economia mostre sinais de recuperação.
CALOTE
O banco considerou favorável a relativa estabilidade da inadimplência, que passou de 3,2% para 3,3% na comparação semestral.
"Não há preocupação diferente com a inadimplência do que havia em 2015. O desemprego tem potencial de desacelerar. O problema será o reemprego dessas pessoas", afirmou Rial.
A provisão do banco para perdas com inadimplência, excluindo recuperação de crédito, totalizou R$ 3,028 bilhão no trimestre, aumento de 17,9% no comparativo anual, mas queda de 13,4% na base sequencial. O dado indica que o Santander confia que terá menos perdas com calotes nos próximos meses.
E mesmo com a queda no crédito, o Santander Brasil viu um aumento de sua margem financeira crescer, refletindo tanto o repasse de taxas de juros maiores quanto de reclassificações na estrutura de captação. Ano a ano, a margem líquida com crédito subiu 4,6%, mas caiu 1,8% em relação ao quatro trimestre de 2015.
Em outra frente, o banco teve um aumento de 9,3% nas receitas com tarifas, para R$ 3,09 bilhões. Sobre o último trimestre de 2015, porém, houve queda de 3,7%.
As despesas gerais, incluindo de pessoal e administrativas, somaram R$ 4,4 bilhões de janeiro a março, alta anual de 7,5%, número abaixo da inflação no período, mesmo incluindo um gasto extra pela associação com o Bonsucesso. Excluindo este efeito, o crescimento teria sido de 6%. No trimestre, houve redução de 4,8%.
O retorno do Santander Brasil sobre o patrimônio líquido ficou em 12,6% no período, queda de 0,2 ponto percentual sobre um ano antes e alta de 0,2 ponto sobre o trimestre imediatamente anterior.
ESPANHA
O lucro do Banco Santander, o maior banco da zona do euro, superou a média das previsões dos analistas, apesar de ter registrado uma queda de quase 5% em seu lucro líquido do primeiro trimestre devido ao aprofundamento da recessão e à desvalorização cambial no Brasil, seu segundo maior mercado.
Uma vez convertido em euros, o lucro também recuou na Grã-Bretanha, maior mercado do banco espanhol, e onde a presidente do conselho, Ana Botín, disse que o banco tem planos de contingenciamento caso os eleitores apoiem a saída do país da União Europeia no referendo de junho.
O Santander divulgou lucro líquido de 1,63 bilhão de euros no primeiro trimestre, abaixo de 1,72 bilhão de euros do mesmo período do ano anterior, mas acima das projeções dos analistas de 1,5 bilhão de euros em pesquisa da Reuters.
No Brasil, a recessão ameaça a estratégia de Ana Botín de crescimento orgânico do banco, que sob a gerência de seu pai e predecessor, teve rápida expansão através de aquisições.
O crescimento no Brasil e em outros mercados emergentes compensou largamente o colapso do mercado doméstico do banco durante a crise financeira espanhola.
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