Censo registra retração de 2,7%, enquanto país tem 1,6 milhão de jovens fora da escola
POR PAULA FERREIRA / RENATA MARIZ
23/03/2016 14:35 / atualizado 23/03/2016 14:37
RIO E BRASÍLIA. Um em cada dez alunos do 3º ano do ensino fundamental, quando se espera que ele saiba ler e escrever, é reprovado no Brasil. A taxa de insucesso chega a 26,5% no primeiro ano do ensino médio, etapa em que se verifica também a maior proporção de estudantes (31,4%) atrasados em relação à idade esperada para aquela série. A má qualidade do aprendizado, que resulta em seguidas reprovações ao longo da trajetória escolar, contribui para uma evasão preocupante, especialmente entre os jovens. De 2014 para 2015, a queda de matrículas no ensino médio foi de 2,7%. Pode parecer pouco, mas trata-se do agravamento de uma crise. O Brasil tem, hoje, mais de 1,6 milhão de pessoas de 15 a 17 anos fora da escola.
Os dados, apresentados ontem pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, são do Censo Escolar 2015. Devido à evasão, sobretudo no ensino médio, o ministro anunciou que o governo fará uma busca ativa para alcançar esses 1,6 milhão de ex-estudantes e tentar recolocá-los na escola. Segundo Mercadante, a pasta já identificou que a maioria deles está em grandes cidades. A tarefa de fazer contato com esses jovens, porém, dependerá da participação de órgãos estaduais e municipais.
O ensino médio é um dos maiores gargalos na educação brasileira. A queda de 2,7% nas matrículas do ensino médio, em 2015, é a maior já verificada desde 2011, quando o número de alunos foi de 8,4 milhões, contra oito milhões no ano passado. A evasão nesta etapa do ensino pode ser explicada por diferentes fatores. Desde a repetição constante, deriavada do ensino deficiente, até à falta de interesse do próprio aluno por um modelo antigo de escola.
- No ensino médio, o problema não é estrutura (para atender a demanda). O problema é o aluno que vem com defasagem da alfabetização lá atrás. Quando chega na sala de aula com 13 disciplinas, ele se desorganiza e vai embora para casa - opina o ministro.
De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Eduardo Deschamps, o modelo de ensino oferecido é pouco atrativo e distante da realidade de muitos jovens.
— Temos um ensino totalmente voltado para formação de jovens que vão seguir para o ensino superior, mas maioria não vai para a universidade. Precisamos de um modelo que permita, para além do conteúdo obrigatório, que ele possa seguir trilhas diferenciadas — acredita.
Por conta disso, Mercadante enfatizou que a Base Nacional Comum Curricular, atualmente em discussão no país, deverá estabelecer um aumento da jornada do ensino médio de quatro para cinco horas, além de estimular a integração com o ensino profissionalizante. A ideia é adotar um currículo mais flexível, garantido conteúdo universal obrigatório.
Já para sanar o deficit da alfabetização, Mercadante oficializou o plano de integrar três programas: o de Alfabetização na Idade Certa; o Mais Educação, de ampliação da jornada escolar; e o de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), que incentiva estudantes de licenciatura e pedagogia a atuarem na rede pública de ensino. Eles serão adotados em 26 mil escolas que concentram 70% dos alunos com desempenho insatisfatório.
Mas a tarefa de melhorar o letramento das crianças não será das mais fáceis. É no 3° ano, etapa em que, segundo o Plano Nacional de Educação (PNE), todos os alunos deverão estar alfabetizados até 2024, que se verifica a maior taxa de reprovação dos anos iniciais do ensino fundamental: 12,2%. Chama atenção também a proporção de 14,9% dos alunos com distorção idade-série nessa fase, o que denota um atraso no fluxo escolar ainda no início da trajetória dos estudantes.
Priscila Cruz, da organização não-governamental “Todos pela educação”, destaca que a falta de uma educação infantil ampla contribui para o cenário de alfabetização deficiente, que culmina em uma taxa expressiva de reprovação.
— Só a partir desse ano a educação infantil passou a ser obrigatória e ela é decisiva para a alfabetização. É central que a criança participe de atividades escolares desde os 4 anos — explica.
A distorção idade-série, representada pelo atraso escolar de dois anos ou mais, é um problema preponderante da rede pública. Atinge 21,5% dos estudantes do 5° ano e 23,2% no 9° ano, contra 5,3% e 7,1%, respectivamente, para as mesmas séries no ensino privado. Regularizar o fluxo é fundamental caso o país queira cumprir a meta do PNE que estabelece 95% dos estudantes concluindo o ensino fundamental na idade adequada até 2024.
Outro dado preocupante revelado pelo Censo é a queda contínua no número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA), que caiu 4,5% em 2015 na comparação com o ano anterior. Já na modalidade vinculada à educação profissional, houve aumento de 4,8% no mesmo período. A junção entre os dois tipos de formação é a aposta do governo para o Pronatec em 2016, com a meta de matricular dois milhões neste ano em cursos profissionalizante associados ao EJA.
Uma meta mais urgente é universalizar a pré-escola (4 a 5 anos), o que significa incluir 600 mil crianças na rede de ensino. Mercadante reconheceu o desafio, afirmando que, apesar do ajuste fiscal, o governo federal está pactuando com municípios a construção dos estabelecimentos.
Matéria retirada do site:
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