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terça-feira, 15 de março de 2016

Homem carrega cruz de 40 kg após ficar 16 anos preso em SP; ele nega crime


Em fevereiro Paulo Cícero postou a foto na rede social ao avisar família que faria protestoDurante os últimos dias, Paulo dormiu na rua e contou com a ajuda de pessoas desconhecidas. "Comi e bebi o que me ofereceram. Passava a noite na beira da pista. Tenho muito a agradecer", disse após mais de 10 horas de caminhada nesta segunda. Ao todo, Paulo passou por São Paulo, Minas Gerais e Goiás. 


Andarilho chegou à capital na noite deste domingo (13/3). Em 1993, ele foi acusado de ter matado uma jovem de 21 anos no interior de São Paulo a marretadas. A ação teria acontecido em frente a uma criança de 4 anos


postado em 14/03/2016 17:53 / atualizado em 14/03/2016 20:58

Otávio Augusto




Há 29 dias Paulo Cícero de Lima, 55 anos, está caminhando com uma cruz de 40 quilos sob as costas. O protesto surgiu após ficar 16 anos preso por um crime que não cometeu. Em 1993, ele foi acusado de ter matado uma jovem de 21 anos no interior de São Paulo a marretadas. A ação teria acontecido em frente a uma criança de 4 anos. 

Paulo foi condenado e passou por mais de 14 presídios desde então. "Não fiz aquilo eu estava passando pelo local e a polícia me pegou. Estava com a roupa suja de sangue de uma galinha que tinha matado. Não quiseram me ouvir", reclama. Por volta das 17h45 desta segunda-feira (14/3) ele caminhava pelo Eixinho Sul, na altura da 210. 

O andarilho chegou à capital federal no fim da noite deste domingo (13/3) pela BR 040. "Quero que meu processo seja reaberto. Não vou embora enquanto isso não acontecer. Vou tirar essa mancha na minha vida", argumenta.



Perdas

Paulo deixou a cadeia em 2009. Desde então ele tenta mudar sua história. "Voltei ao local do crime, conversei com as pessoas e muita gente ainda está viva. Fui acusado por um homem que se dizia policial, mas não era. Me contaram que na verdade o assassinato foi um acerto de contas", explica o homem. 




Segundo o andarilho, o protesto surgiu após um sonho. Ele teria que carregar a cruz até a Catedral Metropolitana de Brasília para ter o problema resolvido. "Sou devoto de Maria. Sonhei que se eu carregasse a cruz ela me intecederia por mim. Acredito que quando eu chegar lá (na Catedral), ela vai tocar no coração de alguém para me ajudar", explica. O objeto custou cerca de R$ 200 e é feito em madeira e possui uma roda para ajudar no traslado. 


Abandono

"Muitos sonhos ficaram soterrados nesse estigma de assassino. Perdi o contato com meus filhos, por exemplo", conta o pai de quatro filhos e oito netos. Na noite do crime, Paulo recorda de um desentendimento com a ex-mulher. "Saí de casa me deparei com o crime e me enrosquei nesse problema", lamenta. 

Dentro da cadeia Paulo diz que viveu pressionado pelo medo de os outros detentos saberem da história. "Os próprios agentes falavam que se eles ficassem sabendo iriam me matar. Tinha muito medo", diz. 

Paulo deixou a cadeia em 2009. Após o período preso, trabalhou como ajudante de serviços gerais em algumas empresas no interior de São Paulo. Antes de encarar o desafio, ele estava morando em Jandira (SP) com a mãe e os irmãos. 


Preocupação

Paulo nasceu em Angelim, em Pernambuco. Em 1977, a família saiu do agreste para tentar a vida em Jandira, no interior de São Paulo. O industrial José Berto de Lima, 46, irmão de Paulo, garante que o homem não cometeu o crime. “Eu acredito piamente que é um pessoa boa, não é de mentir. Ele entrou em chácaras roubou galinha e coisas do tipo, mas ele não matou ninguém”, explica. No total, a família é composta por nove irmãos. 

José conta que no início do ano, Paulo avisou que faria o protesto para chamar a atenção das autoridades, a fim de o processo ser reaberto. “Ele é insatisfeito com isso até hoje. Perdeu a esposa, não pode criar os filhos. Ele conversou com algumas pessoas falaram que podem depor a favor dele e conseguiu outras as provas. Essa é a última esperança dele”, detalha. 


A caminhada de Paulo deixa familiares e amigos preocupados. José conta que pessoas que cruzaram com ele na rua ligam para saber como estão. “Tenho falado com ele todos os dias. Fica todo mundo muito preocupado, mas não temos o que fazer. Até pessoas que ele encontrou na estrada ligam para perguntar sobre a situação dele”, diz. 

O Correio procurou o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.







Matéria retirada do site: 

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