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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Crise política e nome do mercado na Fazenda marcam 100 primeiros dias do governo Dilma

Carolina Martins, do R7, em Brasília

Para cientistas políticos, próximos 100 dias do governo Dilma devem ser mais fáceisDivulgação/Presidência da República

O segundo mandato do governo Dilma completa 100 dias nesta sexta-feira (10) e a presidente deve ter um fôlego da crise política que enfrentou até agora. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos peloR7, que acreditam que com o vice-presidente da República, Michel Temer, à frente da articulação com o Congresso, a relação entre o Executivo e o Legislativo deve melhorar.

Nos primeiros 100 dias do novo governo, a presidente Dilma Rousseff teve poucos motivos para comemorar. Ela viu sua popularidade cair e teve de lidar com protestos de manifestantes insatisfeitos com sua gestão e com o escândalo de corrupção na Petrobras, divulgado pela Operação Lava Jato.

De acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada em março deste ano, somente 13% dos entrevistados consideram o governo ótimo ou bom, enquanto 62% avaliam a gestão como ruim ou péssima. Também em março, milhões de pessoas se reuniram em várias capitais do País protestando contra a corrupção e pedindo o impeachment da presidente.

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A inflação acima do teto da meta, a alta do dólar e da taxa de juros também começaram a ser sentidas no bolso da população. Os indicadores ruins da economia refletiram na conta de luz e na preço do combustível, que também subiu.

Mas, para o professor de Ciências Políticas da FGV/SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo) Francisco Fonseca, a crise é fabricada. No entendimento do especialista, a situação política e econômica não é tão ruim quanto a mídia quer fazer parecer.

— Tudo isso adquire esse grau de suposta gravidade devido à amplificação dada pelos grandes meios de comunicação. É um início de governo problemático, mas amplificado negativamente pela mídia. Uma grande parte do que se chama de crise, é uma crise provocada artificialmente por alguns setores.

O cientista político relativiza inclusive os protestos. Para ele, “é uma manifestação de um grupo social muito específico” que ganhou importância porque foi muito noticiada pela mídia.

Já o professor de Ciências Políticas da UnB (Universidade de Brasília) Antônio Flávio Testa avalia que o protesto reflete a insatisfação da sociedade como um todo. Para ele, Dilma não seguiu o programa de governo apresentado durante a campanha eleitoral.

— A maior dificuldade foi ela convencer o eleitorado para ganhar a eleição e depois não cumprir o que prometeu. Esse foi o primeiro desgaste.

Planalto x Congresso

O consenso entre os especialistas é sobre a resistência que a presidente Dilma enfrentou das lideranças do Congresso nesses primeiros 100 dias. A própria eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara demonstrou, logo no segundo mês de governo, um racha na base eleitoral.

O PT tinha um candidato próprio, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que foi derrotado com uma diferença de 131 votos. O resultado acabou revelando também um problema na articulação política entre o Planalto e as lideranças da base no Legislativo.

A falta de comunicação entre os poderes ficou evidente quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devolveu uma MP (Medida Provisória) editada pelo Executivo, com regras que revogavam desonerações na folha de pagamento de vários setores da economia. A medida fazia parte do pacote de ajuste fiscal do governo, para equilibrar as contas públicas.

A aprovação do Orçamento 2015 também exigiu muitas concessões do Executivo. Além das emendas parlamentares obrigatórias até para novos deputados e senadores, o Legislativo conseguiu, durante as negociações, aumentar a verba destinada aos partidos.

Para os especialistas, essa crise com o Congresso deve ser resolvida com Michel Temer na articulação política. O cientista político da UnB acredita que essa foi uma decisão acertada da presidente Dilma e que a medida deve facilitar a relação com os parlamentares.

— Com a chegada de Temer, pode melhorar um pouco esse relacionamento. Se a presidente delegar de fato autonomia para Temer fazer a articulação, ela pode ter os próximos meses um pouco melhores. Tudo indica que é uma medida que pode ser positiva, vai depender da relação dela com Temer.

O professor da FGV/SP também aposta que agora Dilma vai ganhar um fôlego para conduzir as mudanças necessárias na economia e garantir a governabilidade.

— A vinda de Michel Temer reforça a bancada do PMDB, acho que ajuda. Me parece que tanto no cenário econômico como no político deve melhorar.

Dança das cadeiras

Temer assumiu as atribuições da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), que foi extinta pela presidente Dilma. Com isso, o então chefe da pasta, ministro Pepe Vargas, foi realocado na SDH (Secretaria de Direitos Humanos).

Vargas foi o terceiro ministro a perder o cargo, em 100 dias de governo. O primeiro foi Cid Gomes, afastado do Ministério da Educação depois de acusar de “achacadores” os deputados da base aliada ao governo.

Cid foi substituído por Renato Janine, o que é visto pelos especialistas como um ponto positivo, já que é um nome técnico e não político. Janine é filósofo e professor universitário.

A Secretaria de Comunicação Social também ganhou novo chefe três meses após o início do novo governo. Thomas Traumann foi afastado, depois que um e-mail dele com críticas à comunicação do Planalto vazou para a imprensa, e substituído pelo tesoureiro de campanha de Dilma, Edinho Silva.

Mas, o ministro que ganhou força dentro do governo é o chefe da Fazenda, Joaquim Levy. Era grande a expectativa em torno da equipe econômica de Dilma e Levy foi bem aceito pelo mercado financeiro.

Como também é um nome técnico e desvinculado do meio político, a nomeação dele passou uma mensagem de independência. Responsável pelas medidas de ajuste fiscal necessárias para equilibrar as contas do governo, Levy não é unanimidade no PT, mas tem agradado a presidente e negociado bem com o Congresso.

O professor Francisco Fonseca avalia que ele é um nome conservador para um governo que se propõe progressista, mas acredita que isso não deve interferir na condução das políticas centrais.

— Por mais que ele faça ajustes conservadores, não está mudando a rota do governo, não é um governo neoliberal. O governo fez concessões conservadoras, mas não mudou a rota do governo, isso é positivo.









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