fev. 18, 2016
Apaixonado por máquinas de escrever, Antônio Peixe Neto, de 72 anos, teve sua vida dedicada à elas e ainda mantém aberta uma loja de manutenção e vendas, que abriu em meados dos anos 1980 em Piracicaba (SP). No auge, com 17 funcionários, o comerciante faturava até R$ 60 mil por mês e consertava 10 máquinas por dia. Hoje, ele resiste à modernidade, mas com apenas um funcionário esporádico, e diz que tem sorte quando recebe 10 unidades no mês.
Com um cotidiano inundado por laptops, tablets e smartphones, quem passa pela Rua São João, no Centro da cidade, pode achar curiosa a pequena loja com exemplares de mais de 50 anos. “Algumas crianças passam por aqui e nem sabem o que é”, contou Peixe, que teve seu primeiro contato com uma máquina dessas em 1962, há 54 anos.
Ele começou no ofício como técnico de manutenção na Olivetti, famosa fábrica italiana de máquinas de escrever. Peixe prestou serviços para a multinacional em Guarulhos (SP) por 14 anos, até que uma filial foi aberta em Piracicaba em 1971, mas dez anos depois foi fechada. “Eu me apaixonei pela profissão e então decidi abrir meu próprio negócio naquela época.”
uma das maiores da região
A primeira “Pemaq Peixe & Silveira” era localizada na Rua Governador Pedro de Toledo, coração comercial da cidade, e se orgulhava de ser uma das maiores da região em assistência técnica para máquinas de escrever, calculadoras e relógio-ponto. Com 17 funcionários, Peixe comprou um galpão que pegava três imóveis na São João. “Todos dependiam da máquina de escrever, era o auge dela, por isso tínhamos muito trabalho.”
Antônio disse que prestava serviços para Prefeituras de Piracicaba, Limeira, Capivari, além de escritórios de toda a região. Com sete carros fazendo entregas por diversas cidades e um fluxo intenso de trabalho, Peixe afirmou que chegava a faturar entre R$ 50 e 60 mil ao mês. “Meus quatro filhos e as famílias dos funcionários foram sustentadas pela máquina de escrever”, comentou.
vilão
Com a chegada dos computadores, os clientes foram diminuindo e os funcionários sendo demitidos. “Aluguei mais da metade do galpão para uma pizzaria e o espaço que sobrou ainda é grande para mim hoje”, disse. Peixe afirmou que a era digital começou a surtir efeito há mais ou menos 10 anos. “A partir daí, os computadores tomaram conta das máquinas mecânicas e eu fiquei parado no tempo, mas não desisti”, disse.
“Não tive vontade de trabalhar com os computadores e até hoje sei mexer muito pouco. Para falar a verdade, eu nem gosto”, afirmou. Atualmente, a loja chega a receber 10 máquinas de escrever ao mês. Segundo Peixe, a maioria dos clientes são colecionadores.
“Ninguém mais compra e vende. Antes todos dependiam dela, hoje guardam como lembrança”, contou. A maior parte da renda do aposentado é o conserto das máquinas de calcular, que ainda são utilizadas em escritórios de contabilidade. “Algumas pessoas acham máquinas de escrever em ferro velho e trazem para eu fazer a recuperação”, disse.
Amor pelas relíquias
Para Antônio, as crianças deveriam conhecer as máquinas de escrever. “Foram nelas que muitos clássicos foram escritos, elas fazem parte da história”. Depois de uma vida dedicada às maquinas, o idoso tenta passar a paixão para os quatro netos, mas confessou que pensa em fechar a loja por falta de clientes.
“Fiquei só na máquina mecânica e vou parar aqui porque elas vão acabar. Agora, conserto uma, fico aqui olhando o movimento da rua e lembrando o quanto era movimentado esse lugar”, disse. “Todo ano penso em parar, mas vou ficar até quando Deus permitir. A verdade é que não gosto de ficar em casa parado sem fazer nada então continuo com as minhas relíquias”, completou Peixe.
Fonte: G1
Matéria retirada do site:
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